Há tempos que não sonho com você

Há tempos que não sonho com você. 

Nem íamos para tão distante assim e o caminho era de tráfego livre, três horas da tarde. Meus pensamentos divagavam nos tempos de troca de marcha, você com as mãos no volante. 

Eu estava nervoso, inquieto, muito por conta das circunstâncias inscritas, dessas de afeto, de medo. Seria contraproducente tentar esmiuçar o que se passava na minha cabeça, mal consigo me lembrar do sonho completo. Mas éramos nós dois lá. 

Eu me lembro do seu rosto, da cor das unhas, do seu vestido. Lembro a feição no seu rosto, as vezes em que sorriu e em que se aquietou. 

Lembro que já era céu escuro quando o carro parou. Não sabia por quanto tempo ficaríamos estacionados. 

Estávamos de frente para a fachada de uma casa sombria, dessas que inspiram pesadelos. A casa ficou parada durante todo o tempo em que eu encarava seus olhos, e você encarava os meus. 

Ali, era de fogo que minh'alma pulsava, brasa que arde, chama que cura. A casa não fez barulho, não tentou intervir. Ficou lá, apenas como morada de demônios. 

Não se prestou a nada, além de um cenário apropriado. 

Ali, nós nos permitimos sentir. 

Quando você me beijou, eu acordei. 

Você me despertou.

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