Amantes não-praticantes

Eu sei que você me ama. 

Sei que não se esqueceu de nossas risadas, de meus presentes. Sei bem que ainda se lembra da minha voz prometendo te cuidar. Sei bem que ainda confia em mim e que, talvez, até sinta minha falta de vez em quando. 

Mas o que fazer? 

O que fazer quando amamos com palavras sinceras, mas não agimos em nome do amor? Para qual paraíso vão os amantes não-praticantes

Seus dizeres de afeto são para mim, mas não são meus. São prosa compartilhada. A intimidade que partilha comigo flutua à deriva em águas de marasmo e indecisão. Quanto a mim, não passo de um navegador inexperiente, um mancebo estrangeiro que levou à Mãe d'Água o sonho de ser, um dia, capitão. 

Por sabedoria ou malícia, ela castigou meu barco com turbulência e condenou meu curso às correntes oceânicas - correntes que me levaram direto para as suas águas. Eu me perdi. Sei que me rasgo pela minha vaidade. Dói em mim que as cartas de navegação de mares tão únicos, outrora guardadas sob a minha cama, circulem nas mãos de ébrios marinheiros, todos amigos seus. Dói em mim confessar aos outros que não fui suficiente, que falhei ao conduzir sua nau com integridade até portos tranquilos. Dói em mim ancorar nosso amor aqui. 

Quer saber? Esqueça. Estou convencido de que nós dois precisamos aprender a nadar.

Comentários